Temos a ciência de que todas as civilizações, por nós conhecidas, foram construídas e sustentadas tendo leis como um dos seus principais alicerces. Há em toda sociedade um grande número de coisas que não podem ser feitas ou ditas. Toda sociedade cria limites e proibições, escolhe algumas formas de viver e rejeita outras.
Mas como cada cultura se relaciona com a parcela da população que não se enquadra? Nossa sociedade tem uma maneira muito particular de relacionar com aquilo que rejeita: ela interna – é o que diz Michel Foucault. Adquirimos o hábito de excluir, de isolar tudo o que nos incomoda.
A exclusão passou a ser vista como a forma mais imediata de punir, de corrigir, de curar. De acordo com Foucault, o problema é que o isolamento cria uma população cada vez maior de excluídos, facilitando o surgimento de uma comunidade de marginalizados, cada vez mais independente e organizada.
No Brasil a população carcerária cresceu e se organizou tanto que inverteu a situação, os presos determinavam o que acontecia nas ruas. Temos como exemplos os ataques ocorridos em São Paulo em 2006 e Maranhão no início deste ano.
O exemplo dos ataques ocorridos naqueles estados demonstram que o sistema capitalista cria uma legião de inimigos sociais, fato que corrobora ainda mais com o pensamento do filósofo francês: excluir não elimina, ao contrário, pode proporcionar crescimento, fortalecimento e até organização dos marginalizados.
Mas este não é o único efeito das desigualdades, a forma como a sociedade atual pensa o sistema carcerário acirra ainda mais as diferenças. É como se cada um de nós carregasse uma penitenciária vazia, capaz de abrigar o que nos incomoda ou que não queremos ver. Onde abrigamos tudo aquilo que nos paralisa, que nos impede de sair da nossa zona de conforto e transformar.
Mesmo sem perceber estamos criando desigualdades em alguém ou alguma coisa, é como, se de alguma forma, todos nos tornássemos desiguais. Portanto é como se abandonássemos toda tentativa de interferir nas coisas, de mudar. Tal atitude acaba tornando a violência, a corrupção e o desrespeito em um hábito e a desigualdade a banalização deste mal. Uma pessoa ignorada é como se fosse um objeto sem vida, sem importância.
O também filósofo Jurandir Freire Costa fala de três tipos de desigualdades: o primeiro é o das classes dirigentes e das elites que encaram os outros indivíduos como coisas, não como pessoas – todo esse processo gera uma reação – aquele que não foi reconhecido passa a não reconhecer o valor do outro.
A segunda abordagem é em relação aos desiguais quando estes se comparam com a elite – a vida dos privilegiados deixa de ser vista como algo importante por aqueles que estão à margem da sociedade e assim, pode-se matar para conseguir um tênis, por exemplo.
O terceiro ponto analisado é a relação da chamada elite com ela mesma. Um exemplo é o fato de que quando o caos parece tomar conta das cidades parte da elite usa de remédio contra a depressão e drogas para ter uma falsa sensação de satisfação.
Diante de uma sociedade que parece desabar o cidadão desenvolve e exacerba o individualismo. Na falta de um projeto coletivo a busca por um sucesso individual, pelo bem estar e realização pessoal, se torna cada vez mais importante.
O mais nos causa espanto hoje não é a quantidade de mortes e crimes que acontecem todos os dias no Brasil, mas a maneira como reagimos a isso. A verdade parece estar nas considerações do filósofo Costa que afirma “tendemos a destruir tudo o que não temos coragem de transformar”. E assim temos feito.
Marcelão (PT)
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Data de Publicação: segunda-feira, 25 de agosto de 2014
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